Introdução a Bakhtin :: 2004/2 - Marxismo e Filosofia da Linguagem :: Capítulo II

A Dialética do Signo nas Superestruturas

Por Daniel de Jesus e Fábio Savino]

A relação entre a infra-estrutura e superestruturas é considerado um dos problemas fundamentais do marxismo segundo Mikhail Bakhtin. A “causalidade”, genérica e ambígua, respondendo ao fato da infra-estrutura determinar a ideologia, é uma explicação que isola o fenômeno de seu contexto ideológico e não tem representação cognitiva. É difícil até mesmo considerar uma transformação ideológica independente, quando toda a esfera ideológica é um conjunto único. Ou seja, todos os elementos reagem a uma mudança na infra-estrutura. Sendo assim, o mais prudente seria seguir as etapas de transformação para entendê-las como parte de um corpo único, e não estudá-las a partir da convergência de dois fenômenos isolados em laboratório. O processo é caracterizado por uma evolução social dialética, surgindo da infra-estrutura e tomando forma à medida que alcança as superestruturas.

A dialética é a essência deste problema, em desvendar como a realidade determina o signo, e como este reproduz a realidade. As palavras enquanto signo ideológico são um interessante meio de estudo, pois penetram as relações entre os indivíduos nas mais diferentes situações cotidianas. As palavras amarram as relações sociais com fios ideológicos, sendo, portanto, um excelente indicador das transformações sociais. Sejam elas as mais íntimas ou efêmeras mudanças sociais. A relação entra superestrutura sócio-política e a infra-estrutura ideológica é chamada de psicologia do corpo social e materializa-se na interação verbal. Essa psicologia é exteriorizada na palavra, no gesto, no ato. É nela que se encontram as formas e aspectos da criação ideológica ininterrupta.

Essa troca de material, principalmente verbal, reage sensivelmente às mudanças sociais. Ou seja, os temas gerados nas pequenas interações, são transportados em tipos e formas de discurso modificados e modificadores do primeiro. As normas e etiquetas no falar e no se comportar estabelecem fronteiras e regiões onde as interações verbais se dão. O signo é fruto dessa organização social e do reconhecimento que determinado grupo dá a ele. Uma alteração da organização, reconhecida por todos, resulta na modificação do signo. Vale a pena ressaltar o aspecto dialético dessa mudança. O signo é modificado pelas interações sociais, na mesma medida que essas interações são estabelecidas pelos signos.
Toda essa variação se dá dentro do tempo da história de determinado grupo. E um objeto só pode tomar valor num meio social específico, se estiver ligado às condições sócio-econômicas daquele meio. O árbitro desse jogo é a sociedade. Os índices sociais de valor de um indivíduo se exteriorizam nas relações sociais, e podem ou não, serem incluídas e acabarem por alterar a estrutura. Todavia, apesar do consenso da comunidade semiótica em relação ao signo, ele pode acabar refratado de formas variadas, e com variantes na sua leitura. Isso se deve a luta de classes. A diferença nas classes sociais é um meio de transformação do signo. Onde as diferenças de classes tendem a estabelecer valores diversos ao mesmo signo.


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